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Ultrapassar o “Não posso”

De Pe. Dan McCaffrey e Pe. Matthew Habiger, OSB, PhD
NFP Outreach
www.NFPoutreach.org

Viajamos pelos Estados Unidos da América inteiros proclamando o Evangelho da Vida, uma vez que é próprio do plano de Deus para o amor esponsal. Este plano exige uma entrega total do eu à esposa e a aceitação da entrega total do eu dela em troca. A contracepção torna impossível tal dádiva incondicional. O Planeamento Familiar Natural alberga estes valores, e colabora com eles.

Em todos os lugares onde vamos encontramos casais que perguntam, “Por que é que os nossos sacerdotes não querem abordar a questão da contracepção e da esterilização na pregação?” Tendo ouvido estas frustradas perguntas muitas vezes, pensamos que é altura de fazer a lista das oito maiores desculpas dadas pelos padres e das nossas respostas a elas:

1) “Falar da contracepção e da esterilização escandalizaria as crianças na missa. Deste modo, não posso lidar com isso no púlpito.” 

Mas Jesus não teve estas reservas. Quando ele se dirigia a grandes multidões falava de pecados sexuais. Lembrem-se do Sermão da Montanha (Mt 5,27). As crianças não são atacadas por um ensinamento do plano de Deus para o amor esponsal. Pelo contrário, são vítimas do silêncio no púlpito. As pessoas são atingidas quando há confusão entre o certo e o errado, e hoje existe uma grande confusão acerca do mal da contracepção e da esterilização. As crianças não compreendem a linguagem que nós usamos quando discutimos a pena capital, a eutanásia, ou a experimentação em embriões humanos. Tiram da homilia o que precisam. Se têm dúvidas, podem pedir aos pais uma explicação adequada ao seu nível de entendimento.

A recusa em abordar questões de maior importância moral no púlpito, com efeito, faz de crianças toda a assembleia, que muitas vezes não sabe que a contracepção e a esterilização estão erradas, e não compreende porque é que estão erradas. Hoje em dia temos muitos adultos que são seriamente imaturos no desenvolvimento da sua consciência.

2) “Está certo falar destes assuntos no RCIA (Catecumenato), nos cursos de preparação matrimonial e distribuir panfletos acerca destes assuntos à entrada, mas não na missa.”

Mas esta perspectiva não vê o principal. “Diante de tão grave situação, impõe-se, mais que nunca, a coragem de olhar frontalmente a verdade e chamar as coisas pelo seu nome sem ceder a compromissos com o que nos é mais cómodo nem à tentação de auto-engano.” (Evangelium Vitae 58). Os assuntos importantes não podem ser censurados do púlpito. Se uma mensagem não se transmite no púlpito, não se realiza. Há um grande desconhecimento entre os católicos acerca da moralidade da contracepção e da esterilização. Muito poucos compreendem por que é que estas opções e actos são imorais. Muita gente pensa que se um tema não é tratado na missa, onde é ouvido por todos, então não é importante e pode ser ignorado. Os cursos do RCIA, de preparação do matrimónio, e a tiragem de panfletos são bons acessos para complementar o ensinamento do púlpito, mas não podem nunca substituí-lo.

3) “Estes assuntos são polémicos. Darão origem a contendas e a discórdia.” 

Mas isto significa que o padre, como guia moral, não pode dar orientação moral onde é mais necessária. Se as pessoas já compreendem um assunto, como a escravatura, por exemplo, e não discutem acerca dele, então não há necessidade de falar dele no púlpito. Mas se há muita gente a violar o 5.º e 6.º Mandamentos, não tem consciência disso e não pode perceber por que é que estes actos são pecaminosos, então nós, padres, devemos falar do assunto. Não lhes falarmos disso é negligência da nossa parte. Devemos informar a consciência ao propor a verdade moral. A abordagem que usamos é a de Jesus: falamos de verdade na caridade, com convicção e sinceridade. Se deixarmos calar o Evangelho por nos recusarmos a aceitar as críticas daqueles que rejeitam os valores do Evangelho, então falharemos no nosso apostulado. Não é o nosso Evangelho. Não temos o direito de decidir quais as partes do Evangelho que são mais difíceis de aceitar e que podem ser ignoradas. A contracepção e a esterilização são assuntos sérios, e estão a causar muito mal aos casamentos, às famílias e à juventude.

4) “Os peditórios irão diminuir.” 

O motivo principal deve ser o de que nós não iremos submeter a igreja ao aceno do dólar. “Pereça o teu dinheiro, e tu com ele …” (Act 8,20). O peditório pode diminuir temporariamente. Mas, para além disso, nós, membros do clero, devemos antecipar os critérios que Nosso Senhor usará para avaliar a nossa protecção pastoral do rebanho confiado ao nosso cuidado. O critério principal não será “Pagaste as contas todas e foi fácil fazer o peditório?” Em vez disso será, “Conduziste o meu povo no conhecimento dos meus caminhos, do meu Evangelho, e num amor pelo esplendor da verdade?” Pagar as contas não é prioridade no sucesso pastoral. As qualidades de um Administrador Executivo não são as de um padre. Trazer o povo à pessoa, ao coração e ao espírito do Senhor é que é o essencial. Deus não nos exige sucesso nos termos da reacção das pessoas ao bom ensinamento moral. Ele exige, sim, que nós proponhamos fielmente e ensinemos os valores que estão de acordo com a nossa dignidade de pessoas humanas. O plano de Deus para a sexualidade humana, para o casamento e a família são uma parte essencial do Evangelho da Vida nos nossos tempos.

Os padres que consistentemente propuseram os valores da Humanae Vitae, Familiaris Consortio e Evangelium Vitae dir-vos-ão que as colectas não entraram em colapso. Ao invés, a paróquia aprendeu o significado de um espírito de generosidade, o que se reflectiu nas contribuições paroquiais como também no voluntariado em varias organizações de paróquias. Os casais que praticam o PFN são, na maioria das vezes, os voluntários mais generosos da paróquia. Os casais abertos à vida estão também abertos a entregar os seus filhos ao sacerdócio e à vida religiosa. Se eles forem apanhados pela cultura contraceptiva, então é provável que não sejam generosos com Deus ao aceitar o convite Dele para os seus filhos e filhas.

5) “As pessoas irão a outra igreja porque não querem ouvir isto.” 

É triste de dizer, mas nem todas as paróquias vão a par na abordagem das questões da sexualidade, do casamento e da família. Algumas paróquias ignoram simplesmente o que for politicamente incorrecto. Permitem que elementos dissidentes dentro da paróquia determinem que partes do Evangelho podem ser ali proclamadas. Isto, por sua vez, quer dizer que as pressões vindas de dentro da sociedade secular exercem influência em alguns párocos, que as trazem para a paróquia inteira. Em vez de ser contracultura, uma paróquia assim torna-se mero reflexo da cultura secular. 

Mas esta é a terra dos homens livres e corajosos. O que é que pode fazer com que um padre deixe de proclamar o maravilhoso plano de Deus para o amor humano, para a vida, para o casamento e para a vida? Não temos de nos preocupar com aqueles que rejeitarem a verdade e se forem embora. Nosso Senhor não modificou os Seus ensinamentos acerca da Eucaristia por muitos acharem que a Sua pregação era dura e se terem ido embora. Respeitou a liberdade deles, e deixou-os ir. No entanto, eles tinham de respeitar, também, a Sua liberdade e responsabilidade de proclamar a mensagem que o Pai Lhe dera, que é para a vida do mundo. Se todo o clero estivesse a ensinar claramente bons princípios morais, então os nossos fiéis não iriam à procura do padre que mais lhe conviesse.

6) “Quando o Bispo falar disso, eu começarei a falar disso também.” 

Percebe-se por que é que um padre ou diácono hesitará em tomar a iniciativa de ensinar valores que têm sido largamente ignorados desde 1968. Temos o direito de esperar que os nossos directores espirituais, os bispos, conduzam, através do exemplo, a abordagem destes assuntos sérios. É o dever deles como guias morais e espirituais de uma diocese. Eles têm de ser o bom pastor para a diocese inteira. Mas o que é que acontecerá se eles não falarem? O padre terá justificação por guardar silêncio? Quando nós padres morrermos, o Senhor não perguntará “O que é que o Bispo fez?” Perguntará, “O que é que fizeste? Tu és o pastor do teu povo.”

O nosso sacerdócio vem do Senhor, não de outro ser humano. As nossas obrigações são para com o Senhor, antes de serem para com qualquer um dos seus representantes. Deus pede-nos contas daquilo que fazemos, das nossas escolhas e acções, e das responsabilidades que temos para connosco e para com os outros. A verdadeira liderança significa que vamos de encontro às necessidades reais dos nossos tempos, apesar daquilo que os outros não fazem. A negligência repreensível não justifica outra negligência repreensível. Talvez o que seja preciso fazer numa diocese onde o bispo prefere não falar destes assuntos seja fazer com que a maior parte do clero lhe dê a certeza de que apoiará a proclamação de uma catequese pública. Talvez o bispo esteja preocupado com o facto de se tomar alguma iniciativa acerca destes assuntos, os seus sacerdotes recusem publicamente obedecer, como aconteceu quando a Humanae Vitae foi divulgada pela primeira vez. Todos admiram a liderança, mas onde é que surgirá esta liderança? Cremos que o Senhor espera que todos nós sejamos líderes espirituais e morais.

7) “Não estou preparado para falar destes assuntos porque não me deram formação para isto no seminário.” 

Consideramos que, lamentavelmente, muitos padres não estão preparados para abordar estes assuntos. Não se actualizaram com leituras nem com formação pessoal nas áreas da sexualidade humana, da castidade e do casamento. Mas isto não serve de desculpa. Que outra profissão poderia ser dispensada da formação profissional permanente, mantendo-se actual com a evolução quotidiana da sua profissão? Se os médicos não se mantivessem actualizados, perderiam o direito de exercer medicina. Poderá ser diferente com o clero?

Existem excelentes materiais disponíveis para nos ajudar a entender a beleza do plano de Deus para o amor humano, e em especial para o amor conjugal. Temos a Teologia do Corpo do Papa João Paulo II; temos o Personalismo Cristão. Existem escritos de teólogos morais avalizados. Temos os escritos, CDs e filmes de vídeo da Dra. Janet Smith. Existem os testemunhos de milhares de casais que descobriram as bênçãos que estes valores trouxeram ao seu casamento e à sua família. Duas fontes disponíveis para obter material acerca do Planeamento Familiar Natural e dos males da contracepção e da esterilização são o One More Soul (www.onemoresoul.org) e o Couple to Couple League International (www.ccli.org). A CCL promove três dias de conferências por padres, duas vezes por ano, em Covington, Kentucky. O NFP Outreach (www.nfpoutreach.org) ajuda a conceber e a conduzir para dioceses inteiras as conferências dos padres acerca do tópico “Como apresentar no púlpito os valores do PFN.” Há muito bons médicos católicos que estão na disposição de trazer os seus conhecimentos para estas conferências. E há centenas de casais que estão dispostos a dar o seu testemunho sobre os valores do PFN no seu casamento.

A ignorância nunca foi boa desculpa para justificar a negligência. E hoje isso não é coerente com áreas que são tão vitais para os bons casamentos e para as famílias felizes.

8)“Os recentes escândalos sexuais de padres fazem com que me seja impossível falar de sexo actualmente. Não tenho credibilidade.” 

É mesmo esta a intenção de algumas forças na sociedade laica, que querem amordaçar os púlpitos em questões de moral sexual. Não querem que nós ensinemos sobre o plano de Deus para a sexualidade humana. Mas o vazio moral não existe. Se a boa moral não é ensinada, então outras variantes da ideologia sexual serão ensinadas. Vemos isso hoje na pressão para a aceitar os casamentos entre o mesmo sexo, o sexo seguro para os jovens, e na banalização das uniões de facto.

Os escândalos sexuais do clero exigem uma maior, não menor, ênfase na moral sexual. Se, no passado, tivesse havido uma maior clareza da igreja nestes assuntos, todos saberiam quais os standards que se aplicam a cada um de nós, e seríamos poupados a muita dor. Os nossos jovens não teriam sido vítimas. As dioceses não estariam em perigo de bancarrota. O respeito pelos padres não seria tão pouco. Os bispos não seriam acusados de falta de vigilância. Os escândalos rebentam quando não há clareza da doutrina moral vinda do púlpito. Os tempos que correm exigem mais, não menos, doutrina moral do púlpito.

Tanto o clero como os leigos têm de limpar o que sujaram. O abuso de adolescentes por 4% de padres nos Estados Unidos é, de facto, um escândalo. O abuso da sexualidade por 80% de casais católicos que praticam contracepção, ou são esterilizados, também é um grande escândalo. Antes que uns atirem pedras aos outros, primeiro têm de limpar o que fizeram. Deus castiga o seu povo por causa das violações ao Seu código sexual. Castiga o clero por não arranjar vocações à vida religiosa e ao sacerdócio. Castiga os leigos através dos casamentos instáveis, por uma taxa de divórcio de 50%, muita infelicidade, e crianças que carregam o peso do egoísmo dos seus pais. Por isso, tanto os padres como os leigos precisam de se ter em conta mutuamente. Não batemos uns nos outros; pelo contrário, estamos a enfrentar a verdade em conjunto.

A responsabilidade dos padres e dos religiosos é transmitir o conteúdo da Fé como os Apóstolos pregaram, o que inclui ensinar as verdades morais. Isto implica explicar por que é que o plano de Deus é tão bom para nós e, por isso, merecer os nossos esforços para cumprirmos de acordo com ele. A responsabilidade dos leigos é integrar bons princípios morais na vida e nas acções. Nessa altura, estarão aptos a levar estes valores a toda a sociedade, e a ajudar a moldar a cultura com estes valores do Evangelho. Isto faz parte a nova evangelização.

9) Em conclusão

Talvez se possa dizer que, hoje, a contracepção também nos diz respeito a nós padres. Talvez estejamos dispostos a falar das dimensões do amor altruísta do Evangelho, mas não estejamos dispostos a chamar a atenção para as dimensões do amor enquanto transmissão da vida. Sabemos, no entanto, que o amor sem vida é estéril. E sabemos que o amor verdadeiro é demonstrado pela nossa vontade de sermos totalmente “para” o nosso povo, o que pode, também, envolver uma crítica e uma rejeição ocasional dolorosa. O Evangelho tanto trata da vida como do amor. Porque Ele nos ama Jesus esteve disposto a entregar a vida por nós, para que pudéssemos ter a vida plena. Não somo nós, padres, que fomentamos vida e mais vida entre a nossa gente, num tempo que é caracterizado pela cultura da morte? Não devemos praticar a contracepção no Evangelho tirando-lhe as dimensões que são transmissoras da vida.

Nós, padres, podemos considerar que será difícil para as pessoas abandonarem a contracepção e adoptarem o amor conjugal puro. Mas não será também difícil para nós abandonar a nossa perspectiva contraceptiva do Evangelho? Com a graça do Senhor, e abertos à conversão tudo isto é possível.

Hoje não há razões que justifiquem um silêncio constante da igreja acerca de assuntos da moral sexual, especialmente nas áreas da contracepção e da esterilização. Comecem a vossa pesquisa por bons materiais de leitura e de reflexão. Integrem estes valores na vossa própria espiritualidade, e então desenvolverão o caminho para os articular na vossa pregação e aconselhamento moral.

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